quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Nada como a música


Música. Que poder estranho é esse que tem a música, para de maneira tão despretensiosa e ao mesmo tempo tão voraz atingir nossos sentimentos e nos transportar para algum lugar, algum momento, em alguma companhia.

Que poder estranho é esse, que inicia na audição mas provoca uma festa literal em todos os sentidos, nos fazendo ver imagens, sentir gostos, texturas..

Formalidade informal, ora essa, da música. Já que pode facilmente passear das rebuscadas notas, sustenidos e bemóis para um jogo de palavras e pensamentos tão profundos, às vezes quase infantis, como uma criança que impulsivamente fala o que pensa e não liga pro que diz.

O que é música, portanto, senão um conjunto de sons emitidos por um canal qualquer, que siga um ritmo melódico e que nos aguce de alguma forma, os sentidos?

Poder estranho, afinal. Fala sério, já teve uma música que te fez sentir viajando em uma estrada deserta?

Ou então numa praia, sob sol e cheiro de protetor solar?

Que te deu vontade de sair cantarolando alegremente pela rua?

Que te levou de volta para a infância, em uma embriagada nostalgia?

E, vamos ser sinceros, que não te fez um dia tocar uma guitarra imaginária em frente ao espelho, como um astro do rock dos anos 80...

Poder estranho, esse. Tanto que até a medicina, com sua própria estranheza, tratou de embrenhar-se nesse universo multi-sensorial e emocional.

Música agora é tratamento mais eficiente do que muito remédio.
Alguns exemplos? Há alguns anos a música vem sendo associada à terapia. Elementos musicais são aplicados no tratamento de determinadas doenças, como o mal de Alzheimer.

Pesquisadores identificaram que algumas trilhas sonoras podem ser até mais poderosas e eficientes para o desempenho de atletas do que substâncias ilegais que são encontradas com frequência em exames antidoping.

Até algumas experiências com vacas leiteiras e vegetais mostram aumento na produção quando expostos à música clássica ou instrumental.

Puxa vida! Música já é por si só um auto-tratamento. Tratamento informal, pra afogar as mágoas, para libertar-se, para ensinar, para unir pessoas, para fazer rir, para fazer chorar, para motivar, para se exercitar, para inspirar.

Música, estranha palavra poderosa, que atinge os corações mais duros, as almas mais inquietas. Belo poder!

Deixemos então a música nos absorver. Mal não faz. No máximo, ficaremos drogados pela sua intensidade.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Nada como virar a última página


Não há sensação mais gostosa do que a de terminar um livro. De, após dedicar boas horas de sua vida a uma história e mergulhar nela intensamente, virar sua última página. Aquele breve flashback da trama que involuntariamente nos toma, nesse instante final, traz consigo já uma saudadezinha, provocada tanto pelo inevitável envolvimento com o(s) personagem(s) como pelas palavras mágicas da obra como um todo. Nem todo livro provoca isso, e não sei se os que provocam trazem a mesma sensação em todo leitor, mas que é interessante, é.

Acabei de virar a última página de On the Road, do mago da geração beat, Jack Kerouac, e imediatamente saltitei rumo ao computador para extravasar as palavras que pipocavam na minha cabeça. Livrinho definitivamente subestimável, poderia dizer. Edição pocket, baratinha, aparentemente inofensiva, mas que me consumiu algumas semanas e me provocou alguns delírios causados pelas intermináveis e incontáveis digressões espalhadas ao longo da obra pelo autor.

Kerouac era doidão. Só pode. Dizem que ele escreveu On the Road no período de três semanas em um rolo de papel para telex, sem parágrafos, em infindáveis frases que se perdiam de vista até verem uma vírgula ou um ponto. Escreveu o que seria uma autobiografia em primeira pessoa, narrada sob o nome de Sal Paradise, de suas intensas viagens pelas estradas da América no fim da primeira metade do século passado. Viagens marcadas por muitos devaneios, ao som de jazz e ao ritmo da tal da benzedrina, na companhia de amigos igualmente doidões, como Dean Moriarty, também um pseudônimo, tudo embalado em uma gostosa prosa bastante espontânea.

Um obra que facilmente pode ser confundida como uma história fútil, à lá sexo, drogas e rock’n roll (só que com jazz ao lugar de rock) de jovens sem compromisso procurando por diversão e liberdade. Na verdade, é isso mesmo, só que envolta em uma sintonia extremamente poética. Não sei como descrever exatamente, até porque qualquer palavra que eu ouse utilizar me deixaria no chinelo, se comparado ao texto de Kerouac. Mas esses caras doidões, ou ao menos Jack, tinham uma visão tão detalhada da vida, das coisas mais simples, que você se encanta ao perceber. Nas digressões a que me referi, o autor praticamente cria uma poesia para cada situação que será por ele descrita. O livrinho tem a tradução de Eduardo Bueno, que provavelmente teve um imenso trabalho porém um talento do mesmo tamanho para conseguir passar ao leitor brasileiro as viagens reais e literais de Kerouac.

Essa foi a sensação que tive ao virar a última página de On the Road. De sair contando para todo mundo o que é essa obra, e de voltar as páginas para grifar as digressões mais extasiantes para lê-las em voz alta e promover esse mesmo encantamento em uma outra pessoa. Ah, e de tentar adquirir a versão em inglês, para conhecer esse rico vocabulário de Kerouac em sua língua original.

On the Road vai agora para a minha prateleira. Junto aos outros que igualmente me excitaram, para dar lugar a uma nova embriaguez. Vamos virar mais uma vez a primeira página.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Caramba, é Natal!


Dia 24 de dezembro, e eu, mais uma vez, fui em busca de um presente no último momento. Fui burra outra vez. Porque, assim como eu, todas as outras pessoas da cidade inteira parecem também ter deixado para comprar seus presentes na última hora e agora reclamam do tumulto como formigas que se perderam da trilha do formigueiro. Andam ziguezagueando de loja em loja com seus pacotes sobre as cabeças e se perdem do caminho de casa. Não vejo tanta gente se batendo assim pelas calçadas desde o último dia de campanha eleitoral deste ano, só que em vez de pessoas abanando bandeiras com trezes e quarenta e cincos nas esquinas, via vendedores ambulantes com redes, capas para banco de carro e chaveirinhos seduzindo consumidores com seu 13º no bolso.

E lá estava eu. Carregando o meu pacote e desesperada por alcançar o caminho de casa logo. E sonhando poder encontrar um túnel que me leve a uma casinha simpática no meio da neve, onde as pessoas se vestem com cachecóis felpudos e suéteres com renas bordadas, e cantam músicas natalinas em volta da árvore enfeitada aquecidos pela lareira logo ao lado.

Cada um cria sua imagem de Natal perfeito. E é triste ver que aquele sincero espírito natalino, de fraternidade e generosidade, acaba ocultado pelo consumismo atordoado. Papai Noel não desce mais pela chaminé. Fica na porta das lojas jogando balas para as crianças e mostrando quanta coisa bonita há nas vitrines.

Mas, lá no fundo, ainda há algo simbólico. Apesar de o ato de dar um presente ter sido singelamente corrompido pelo capitalismo a ponto de se perder de vista sua verdadeira intenção, no fim, os abraços como resposta ainda estão lá. Os muito obrigado também. As reuniões de pessoas que há muito tempo não se viam enfim foi feita. O clima de amizade fortalece. A preocupação por agradar o próximo também.

Nem todo mundo pensa assim. Sejamos sinceros. Mas que o ar de dezembro ainda tem um sopro natalino real, tem.

Feliz Natal!

sábado, 8 de dezembro de 2012

Um exemplo para mim


Estava lendo as crônicas de Martha Medeiros outro dia e, caramba, nada como as crônicas da Martha Medeiros para me colocar para cima, para me inspirar. Martha é uma pessoa habitada, definição que arranquei, adivinha, de outra crônica dela, e que definitivamente mudou minha visão sobre as pessoas.

Martha Medeiros, é, digamos assim, onde eu quero chegar em meu profundo e interrogativo objetivo de vida. Martha tem um poder legítimo de pessoa habitada. De extrair das coisas mais banais possíveis um sentido totalmente imprevisível para algo, e depois descrever por meio de suas dançantes palavras a conclusão vinda sabe-se-lá como, e que, de sua maneira mais natural, atinge pessoas como eu, que estão o tempo todo buscando sentidos.

Ser avoada e confusa se torna legal depois de ler Martha Medeiros. Porque me faz perceber que talvez isso não seja ruim. Talvez isso seja uma bela arma para se descobrir as coisas e para viver criando sentidos próprios que nos fazem sentir bem.

Não é o máximo ter alguém em quem nos inspirar? Alguém, ou algo, sei lá. Não acho que isso queira dizer que estamos copiando, ou algo assim. Acho que estamos colhendo exemplos do que há de bom para nos construirmos. Como o roqueiro que tem nos Beatles a descrição viva do que ele pretende ser. Como o pintor que sonha em se aproximar, mesmo que infimamente, das curvas surrealistas de Dalí. Como o filho que vê no pai o retrato do que ele será no futuro. Como o leitor de quadrinhos que tem no super-homem o exemplo de vida.  Como o fiel cristão que defende Jesus antes de si mesmo, tamanha devoção.

Somos únicos. Sete bilhões de cabeças-duras singulares que mesmo sabendo o que é certo e o que é errado, ainda assim cometemos nossos próprios erros, à nossa maneira. Mas crescemos com vivência, com a experiência. Com o que aprendemos na aula, com o que lemos num livro, com o que entendemos depois de sofrer as consequências, com o que o tio da padaria comentou. Ao aprender com quem admiramos. Com quem faz aquilo que gostamos de fazer, ou que por algum motivo se tornou, sem querer, um exemplo para nós.

Tão comum é isso que imediatamente fui remetida a diversas situações. Às incontáveis obras artísticas, que foram “baseadas na obra de fulano de tal”. A uma aula de rádio, no ano passado, onde o professor nos disse: “Escutem os locutores. Percebam seus estilos e então construam o de vocês”.

Porque não absorver o que há de bom nesse mundo e assim nos tornarmos quem queremos ser?  

Olhares da cidade

 


Basta caminhar por uma rua do centro em um dia de intenso movimento que você percebe, a cada esquina ou menos, pessoas peculiares, que carregam em seus olhares características que podem definir seu humor, seu caráter, suas vontades, seus sentimentos. Dizem que um olhar vale mais do que mil palavras, e talvez isso seja realmente verdade. Pois em um olhar é possível perceber, por exemplo, a inocência contrastando com a frieza, a esperança, a solidão, a curiosidade, a distração. De velhos a crianças, de olhares enrugados pelo tempo a olhares tranquilos de quem ainda tem muito o que viver. É só olhar!

domingo, 28 de outubro de 2012

Talento que é talento


Tem gente que tem talento para falar. Tem gente que tem talento para ouvir. Tem gente que se orgulha do talento de fazer, de agir, enquanto tem gente que vê talento em servir.

Por que não dizer que tem gente que tem o talento de amar, ou o talento de sorrir. Como não dizer não ser talento o ato de viver, de respirar, de sentir, de gozar.

Talento que é talento percebe-se logo de longe, ligeiramente gritante no instinto do indivíduo, quase que pedindo para saltar de seu espírito e mostrar-se ao mundo, exibindo-se de tamanha unicalidade, de uma possibilidade impossível senão ao seu ser.

Mas talento que é talento, de verdade, não se mostra, não se julga, mas também não se imacula. Dá o ar de sua graça em um ato instintivo, sem se deixar ser ponderado, e ultrapassa os limites do preconceito e dos pré-conceitos que estão em volta, loucos para desencorajá-lo, tamanha, real, inveja.

Talento de verdade não tem origem, não tem fórmula, não tem construção. Talento de verdade apenas surge e toma. Toma razão, toma emoção, toma físico e, porque não dizer, passa a fazer parte dessa mistura de sentimentos, formando uma bagunça gostosa que define o ser e, aí sim, permite-o encarar a realidade feudado no escudo de suas qualidades e defeitos.

E definindo o talento, não pode-se esquecer do maior de todos eles, maior em importância e insignificância. O talento de ser.

Não basta ser igual aos preceitos pré-concebidos pelo entorno, e esquecer-se de que seus próprios instintos gritam por um espaço para deixar-se tomar. Ser é atingir indiscutível independência, sensibilidade, coragem, dedicação, porque ser, sim senhor, não é para qualquer um.

Ser é misturar tudo o que mais é admirado nos talentos e absorver tudo de bom. Ser é viver para ser feliz, desconsiderando o resto, que, com um talento desse tamanho, que importa. Não conheço tanta gente que possua o talento de ser, tão raro que nem sei com o que comparar. Por isso guardo os poucos afortunados no coração, pois vejo que eles carregam o amor pela vida que é capaz de recarregar as baterias mediante qualquer tristeza, e sei que com eles só tenho a aprender.

domingo, 21 de outubro de 2012

Erupção humana, sacana


Dizem que quando algo está muito errado, a solução é explodir e começar tudo de novo.  Mas e quando, dentro de nós, vê-se a necessidade de explodir?

É como um vulcão. Está tudo calmo, às vezes até acontece algum movimento estranho, mas insignificante, que logo é superado. Mas aí esses pequenos abalos vão se somando e isso deixa-os mais intensos. Eles ganham força, mostram que estão aí e que não podem ser ignorados. A lei da natureza os coloca para fora, o que causa um dano desgraçado.

Não sei ao certo se é da natureza do homem não ter muito jeito com emoções. Ou elas é que são muito imprevisíveis. Acho que é isso. Às vezes, precisamos saber que nem tudo está ao nosso controle. Que somos vulneráveis. Que somos vivos.

Tudo acontece tão mecanicamente, tão automaticamente programado, controlado. Mas as emoções fogem à regra. Corajosas. Insanas, para colocar palitinhos no meio das roldanas e interromper todo o trabalho que andava bem em seu tempo calculado.

Elas estão aí para dizer “ei, você é humano. Você precisa sentir”. Isso é bom. Mas, quando não estamos preparados, ficamos um tanto bagunçados, perdidos.

Devia haver aulas para como lidar com emoções. Quem sabe uma oficina de emoções reprimidas?

Precisamos cair na real. Nem tudo é fácil. Bom seria se pudéssemos pegar as emoções ruins, colocá-las num potinho e despachar para Indochina. Mas não podemos. Precisamos aprender a lidar com elas. E o pior é que, para ajudar, não há manual de instruções. O negócio é a prática mesmo. Com muita sorte, as palavras de algum amigo habitado podem ajudar, mas por hora é melhor você se virar, bonitão.

Lágrimas ajudam. Músicas ajudam. Escrever ajuda. Caminhar por uma longa estrada em meio a árvores e cheiro de mato também ajuda. Até aí é onde eu sei, o resto, boa sorte. Pela lógica, a solução seria encarar o problema e resolver. Mas aí não tenho tanta experiência, sinto muito. Ainda preferia a alternativa do potinho.

......

TEORIA DO PARQUE DE DIVERSÕES

Me deram essa saída, para lidar com emoções. Que não somos nada além de um parque de diversões para as emoções. Que brincam com a gente, que gostam de nos deixar confusos. Mas em um momento elas vão se cansando, até que só sobra uma com energia para brincar com você e te dar um caminho.

Ela pode ser qualquer uma. Raiva, tristeza, carinho, amor, felicidade. Vai depender de quanta energia você já deu, dá ou ainda vai dar para cada uma delas.

Aos poucos, vai surgindo um objetivo no fim do túnel e aí você pode escolher para qual dar energia para que você consiga chegar lá.

Então, deixe elas brincarem. Elas vão se cansar antes de o parque fechar.

Faz sentido. 

O sorriso habitado


Ele andava pelas ruas solitário. Olhava em volta e via pessoas, pessoas e mais pessoas, mas ainda assim se sentia sozinho. Todos passavam apressados, em sua rotina diária, com compromissos inadiáveis e insubstituíveis. Tinham que correr. Não tinham opção. Se prenderam àquela vida e não conseguiam mais se livrar dela. Só se sentiam úteis correndo, com maletas e celulares.

E ele andava só. Tinha compromissos como todo mundo, mas tinha que ter um tempo só para ele. Um tempo em que pudesse fazer as coisas que gosta, sem pressa, sem horários. Um tempo para ser feliz. Para sentir no rosto o vento fresco de início de primavera, para ver a maneira como os pássaros cantam como forma de atrair um companheiro, e ver como os cachorros de rua se divertem com simples poças d’água e gravetos secos. Em seu rosto formam-se sorrisos espontâneos, que nem mesmo ele sabe de onde vem, acompanhados de uma sensação de paz e leveza. A maioria das pessoas daquele grande centro robotizado não sabe o que é essa sensação. Não tem tempo para isso. E isso deixa o pequeno solitário infeliz.

“Como pode eles abrirem mão de algo tão simples? Tão essencial?”, ele se questionava. O sorriso. Você não vê sorrisos espontâneos nas pessoas robotizadas. Vê sorrisos falsos, forçados para agradar o chefe ou o cliente. No máximo sorrisos de alívio, no final da tarde, após mais um dia de exaustivo trabalho, que vai ser sucedido por outros tantos dias exaustivos de trabalho. Então, em uma praça, ele viu uma mulher.

Não era uma mulher comum. Era uma mulher habitada. Que tinha alma e que não via o mundo como os robotizados, mas que tinha a esperança de que eles, no fundo, fossem também habitados. E sua missão era fazê-los rir. Ela se vestia de mímico. Em preto e branco, com maquiagem de máscara grega e meiões listrados até a coxa. Tinha um vestido como os de boneca, e luvas compridas com pequenos corações. Sapatos com pompons nas pontas e um chapéu pequeno e engraçado. Ela chamava a atenção. E chamou a atenção do pequeno solitário.

Ela fazia rir. Não pedia dinheiro nem recompensa. Ela brincava com as flores, importunava o pipoqueiro, e levava um balão à criança que havia derrubado o sorvete. Conversava com o mendigo, elogiava a moça grávida, e batia palmas cada vez que o sol saia de trás de uma nuvem e aquecia novamente aquela praça. E ela conseguia. Dos mais distraídos e rabugentos, ela tirava um sorriso. E por mais que este fosse rápido e com timidez, trazia para a moça a sensação de dever cumprido. Essa era a sua missão.

E o pequeno solitário ficou encantado. Viu nela, naquela pessoa sozinha, que agia maneira simples e sem pedir nada em troca, alguém que fazia sua parte para deixar o mundo mais feliz. E ele, também chamou a atenção da moça habitada. Não pela sua aparência, já que não usava nada além de uma camiseta, um jeans rasgado e um all star surrado. Ela viu nele aquela mesma luz que há pouco havia se iluminado nela por outros olhos. Uma luz de esperança.

Ela viu que ele não era igual às outras pessoas que ela tentava fazer rir. Que ele não era mais um robotizado pela sociedade, e sim um também habitado. Ela não sabia o que a tinha feito chegar a essa conclusão. Ela apenas sabia.

Então, agora foram dois sorrisos. Dois sorrisos espontâneos, que ambos não sabiam de onde vinha, e que trazia paz e leveza em dobro. E ela estendeu as mãos. E foi como se algo o puxasse para perto dela. E ele foi.

Hoje, a praça do centro já não é mais a mesma. Ela anda mais iluminada. Nela, as pessoas passam, mesmo que com pressa, só para sentir aquela sensação boa, que ninguém explica. E nela, estão dois habitados. Fazendo rir, fazendo brincar, fazendo desligar a rotina por alguns segundos, só para mostrar como a vida é legal, e que não deve ser desperdiçada. São apenas dois, mas a diferença que eles fazem na vida daquele monte de gente não pode ser contada. 


domingo, 14 de outubro de 2012

Essa dona inspiração!


É por perder a inspiração que acabei por andar com um caderninho em mãos. Não perder de não ter, mas perder de fugir. De sentir a aparentemente insaciável vontade de agir com a grande ideia e deixá-la escapar entre os dedos. É por isso que agora a agarro, mesmo tendo que soltar outra coisa.

Tem gente que busca inspiração. Tem gente que a espera chegar. Tem gente que precisa de determinado ambiente para transformar o nada em um grande tudo. Tem gente que para tudo para fazer da hora o agora.

E assim vão os poetas, os músicos, os pintores e, por que não dizer, o pedreiro da obra lá da esquina que fez um muro mais caprichado porque estava inspirado.

A inspiração, dona do momento, rainha dos pensamentos, toma o ser para por em ordem uma faísca de empolgação que surgiu sei-lá-de-onde para fazer sei-lá-o-quê. Que mexe com os sentimentos, que briga com o bom senso para tornar-se real. Palpável. Vivível.

Tão bom sentir inspiração. E bom igual é colocá-la em prática. Não importa para quê, seja para um grande trabalho, uma pequena distração ou um agrado meia-boca. O que importa é aproveitá-la, afinal, inspiração, dona da verdade, aparece na hora que quer, do jeito que quer. 
Fazer o quê? Vamos respeitá-la e, claro, abusá-la.

Venha inspiração, ou quer que eu corra atrás de ti? Pois bem, se é assim, vou resmungar lamúrias porque minha inspiração não está colaborando comigo. Vou largar meu agora e dedicar-me ao outrora para ver se enfim você resolve se desculpar e voltar para meus pensamentos. Será que você faz assim com todo mundo? Essa de sumir só para contrariar? Ou a contrariedade é justamente para me pregar uma peça?

Peça muito bem dada, afinal. Em revolta por não ter inspiração, faço surgir essas palavras. Inspiração danadinha, que fingiu fugir para aparecer de outra forma. Bom assim. 

sábado, 13 de outubro de 2012

A cada curva uma história


Outro dia, passava de ônibus pela entrada de uma propriedade na beira da estrada e o que imediatamente me atraiu os olhos foi um banquinho feito de tronco de árvore, talhado ligeiramente para receber um ocupante. Estava lá, ao lado da estradinha barrenta e em frente à cerca de madeira que separava a casa da rodovia. Dava para ver que fora feito somente para uma utilidade: para o dono da casa, quem sabe após um dia inteiro de lida na roça, pegar seu cigarro de palha, se sentar e ver o movimento de fim de tarde.

Ele não estava lá, mas podia vê-lo. Alto, magro, setentão, com calça social meia-canela que termina com um chinelo de dedo de tiras azuis, a camisa desgrenhada com alguns botões abertos na altura da gola, mostrando um pomo-de-adão bastante saliente. Ele, com chapéu de palha, olhos azuis, murchos, bigode amarelado e pernas cruzadas para no joelho apoiar o braço que segura o fumo. 

Ele admira o asfalto. Olha os caminhões passando, o sol se pondo, o dia acabando. Solitário, pensativo, mas feliz.  Deve fazer isso todos os dias, como um ritual pessoal. “Está na hora, vou para o meu banquinho olhar o movimento...”.

É curioso pensar que cada local que passamos tem uma história. Todo lugar tem. O banco da praça da igreja, quem sabe, dez anos atrás recebia um casal de namorados jovem e inocente, que rabiscou na tinta descascada um coração com suas iniciais dentro. Aquela árvore robusta, bem certo podia ter recebido uns moleques desenxabidos há algumas décadas para se pendurar entre os seus troncos e se esconder das broncas da mãe. Aquela construção velha e semi-destruída que permanece levantada, mesmo sem utilidade, quem sabe poderia ter sido um salão de baile de paredes enfeitadas, nas quais, se você encostar o ouvido com atenção, ainda pode ouvir as valsinhas embalando os casais empolgados.

É assim. Tudo é uma história. Cada migalhinha de aparente insignificância para os olhares distraídos pode ser na verdade rica, de sentimentos, de simbolismo, de energia. O que você está fazendo agora, no local onde estiver, é uma nova história. E quando você sair, outro virá e construirá outra história. 

Nascemos, crescemos, morremos. Mas quem disse que não deixamos nada?

"Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". Millôr Fernandes

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Dando as caras novamente

Após um bom tempo sem dar as caras no Blogger, resolvi ressuscitar meu velho blog e dar continuidade a um trabalho bobinho que se revelou uma espécie de ombro amigo digital, no qual posso descarregar minhas ideias e praticar meu jornalismo informal. 

Que me desculpem os profissionais que interpretaram minha frase acima como que querendo dizer que ser blogueiro é ser jornalista. Longe de mim. Digo que aqui posso unir minha necessidade de me expressar com o que estou aprendendo em sala de aula e na redação do jornal. Uma coisa leva a outra, uma coisa compõe a outra.

O Eu e minha rotina agora é Atrevo-me. Novo nome, novo layout, novo tudo. Pensei em criar outro blog, já que acredito que mudei um pouco em relação ao que era quando iniciei este aqui, em 2010. Mas, apesar das mudanças ocasionais do dia a dia, algumas coisas que postei anteriormente ainda fazem sentido para mim, aliás, a maioria, e ainda considero que essas coisas merecem serem lidas.  

Não vou mudar muito o contexto. A pretensão aqui é, como diz o título, atrever-me a expressar as ideias que me surgem na cachola. O que der na telha. O que escapar dos meus miolos e virar letrinhas. Metáforas e estranhezas à parte, o Atrevo-me tratará ora de assuntos cotidianos, culturais e críticos, ora de sentimentos e, porque não dizer, ora de histórias que meramente coisificaram a criatividade em um certo momento. 

Por exemplo, o post anterior, sobre a banda I'm from Barcelona, surgiu da necessidade de querer falar sobre ela após conhecê-la. Banalidade que me fez entrar no Blogger novamente e postar algo, coisa que não fazia há muitos meses. Ao mesmo tempo, tenho escritos (e pretendo continuar a escrever) alguns contos e crônicas, que me surgiram sei-lá-quando e sei-lá-porquê, e que me brecaram por um instante para colocá-los no papel. Podem não fazer muito sentido. Ou podem fazer. Não sei.

E no sentido de tudo isso entram os leitores despretensiosos. Despretensiosos porque dificilmente esperarão ler aquilo. Ou esperarão. Também não sei direito. Despretensiosos como eu, ao escrever. Não espero muita atenção, nem estou na neura de que o Atrevo-me seja realmente lido. Se alguém ler, já valerá a pena. E, até mesmo se ninguém ler, esse material ficaria abandonado no meu computador, ou talvez mostrado a um ou outro amigo muito próximo, portanto, já estou no lucro.

domingo, 30 de setembro de 2012

A banda mais bonita da Suécia

Hoje precisei ressuscitar meu velho blog para falar de uma nova banda ridiculamente boa. Descobri I’m From Barcelona despretensiosamente às duas da madrugada no Altas Horas, e fui atraída como um imã ao som dos caras. Falo “ridiculamente boa” porque trata-se de um monte de gente feia, que não é de Barcelona, e sim da Suécia, e que traz um som alegre – muito alegre. Mas muito bom.
 
Minha analogia à Banda Mais Bonita da Cidade no título não é por acaso. Comparei muito as bandas principalmente quando me dei conta de que I’m From Barcelona é uma banda gigante (o Serginho Groisman já estava cansado de cumprimentar todas as pessoas que entravam no palco ao anunciar a banda), me surpreendendo da mesma forma de quando vi o clipe “Oração” no mês em que a BMBdaC estourou no YouTube. Apesar o grupo curitibano ter, na real, cinco integrantes, e Oração não ser exatamente o estilo da banda dito pelo restante das canções, foi isso que marcou. E os caras da Suécia me passaram a mesma mensagem. Um bando de amigos tocando músicas alegres.
 
Pareço assim diminuir a banda, mas não é minha intenção. Apesar de as músicas serem muito parecidas, o som agrada, principalmente se a ocasião for colocar os fones e sair andando pela rua em um dia de sol sem rumo e sem horário. É contagiante! Eu, por exemplo, recebi uma injeção daquele hormônio do bem-estar que não me recordo o nome quando ouvi “Always Spring”. Quando vi o clipe então, quis pôr um vestido florido e sair cantarolando.
 
A banda é recente. Pela minha breve pesquisa feita enquanto seus vídeos eram carregados, começaram em 2006. Fui do-contra e comecei pelo último álbum: Forever Today (forever today, always spring ???), que também tem a canção “Battleship” que é interessante. Pelo pouco conhecimento, posso estar enfiando meu pescoço na cordinha da forca ao divulgar tão empolgadamente a banda, mas, como falei, ela me contagiou.
 
Então, quer ficar alegre? Ouça I’m From Barcelona. Não sei o que vou dizer daqui a algumas semanas, quando o ritmo talvez venha a me enjoar, mas para começo de conversa é uma boa pedida.