sábado, 13 de outubro de 2012

A cada curva uma história


Outro dia, passava de ônibus pela entrada de uma propriedade na beira da estrada e o que imediatamente me atraiu os olhos foi um banquinho feito de tronco de árvore, talhado ligeiramente para receber um ocupante. Estava lá, ao lado da estradinha barrenta e em frente à cerca de madeira que separava a casa da rodovia. Dava para ver que fora feito somente para uma utilidade: para o dono da casa, quem sabe após um dia inteiro de lida na roça, pegar seu cigarro de palha, se sentar e ver o movimento de fim de tarde.

Ele não estava lá, mas podia vê-lo. Alto, magro, setentão, com calça social meia-canela que termina com um chinelo de dedo de tiras azuis, a camisa desgrenhada com alguns botões abertos na altura da gola, mostrando um pomo-de-adão bastante saliente. Ele, com chapéu de palha, olhos azuis, murchos, bigode amarelado e pernas cruzadas para no joelho apoiar o braço que segura o fumo. 

Ele admira o asfalto. Olha os caminhões passando, o sol se pondo, o dia acabando. Solitário, pensativo, mas feliz.  Deve fazer isso todos os dias, como um ritual pessoal. “Está na hora, vou para o meu banquinho olhar o movimento...”.

É curioso pensar que cada local que passamos tem uma história. Todo lugar tem. O banco da praça da igreja, quem sabe, dez anos atrás recebia um casal de namorados jovem e inocente, que rabiscou na tinta descascada um coração com suas iniciais dentro. Aquela árvore robusta, bem certo podia ter recebido uns moleques desenxabidos há algumas décadas para se pendurar entre os seus troncos e se esconder das broncas da mãe. Aquela construção velha e semi-destruída que permanece levantada, mesmo sem utilidade, quem sabe poderia ter sido um salão de baile de paredes enfeitadas, nas quais, se você encostar o ouvido com atenção, ainda pode ouvir as valsinhas embalando os casais empolgados.

É assim. Tudo é uma história. Cada migalhinha de aparente insignificância para os olhares distraídos pode ser na verdade rica, de sentimentos, de simbolismo, de energia. O que você está fazendo agora, no local onde estiver, é uma nova história. E quando você sair, outro virá e construirá outra história. 

Nascemos, crescemos, morremos. Mas quem disse que não deixamos nada?

"Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". Millôr Fernandes

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