Em uma entrevista na TV, um cara cujo trabalho nada tinha a
ver com o assunto disse que não há como medir a felicidade de uma pessoa. Não,
porque não há parâmetros para isso. Não há um grau que defina se você é bonito
acima da média, ou se sua inteligência está abaixo dela. Aí as pessoas começam
a medir a sua felicidade pela infelicidade dos outros. Você vê alguém que
considera feio, se acha mais bonito do que ele e julga estar contente com a sua
beleza. Você vê alguém reclamando do seu trabalho e porque você não está
reclamando do seu, quer dizer que o seu trabalho é melhor do que o dele. Não é
louco isso?
Essa conclusão me fez perceber que existe um grande vilão da
autoestima por aí, aparentemente inofensivo, que, recoberto pela sua grande
presteza à sociedade ao divulgar com rapidez os fatos, ao deixar todo mundo bem
informado com grande facilidade, involuntariamente cria o grau de felicidade
das pessoas: as redes sociais. Não sou psicóloga para saber se isso realmente é
um fato. Foi apenas uma observação despretensiosa de que as atualizações dos
nossos amigos podem, sim, cutucar o nosso ego.
Há quem adore postar fotos de viagens. Centenas de imagens
de lugares incríveis, paradisíacos, que são atualizadas constantemente, nos
trazendo a conclusão de que essa pessoa definitivamente sabe aproveitar a vida.
Você vê isso, e automaticamente aquela barrinha imaginária que mostra em que
nível está sua felicidade (tipo aquelas de energia, dos personagens de
videogame) perde um risquinho.
Você segue observando as atualizações. Aí você vê que uma
pessoa postou fotos com um(a) namorado(a). Imagens só love, do casal protagonizando um
beijo de novela, ou então agarradinhos, fazendo careta para a câmera etc,
enfim, você sente aquele amor em ebulição, para ambos os lados. A sensação de
que aquele é um típico início de namoro e que aquelas pessoas são perfeitas uma
para a outra, tem afinidades extremas e fazem coisas legais. Independente de
você ter um namorado ou não, independente do amor, lá se vai mais um risquinho
da sua barrinha de felicidade.
Você segue mais um pouco as atualizações e vê uma foto da
pessoa dentro do seu local de trabalho, com os colegas, rindo adoidados. Cara –
você pensa – esse aí tem o trabalho dos sonhos. Tchau, risquinho. Logo depois
você vê o outro em uma festa, repleto de amigos, com copos de cerveja na mão,
rindo muito, e em baixo um cinquenta e sete comentários do tipo “festa show de
bola”. E sua barrinha de felicidade começa a chegar no vermelho e os últimos
risquinhos piscam, para mostrar que estão no limite.
Depois de cinco minutinhos dando aquela olhadinha básica “só
para ver o que tem de bom”, você sai do Facebook deprimido. Há, pegadinha do
malandro! Agora você tem com o que medir a sua felicidade e começa a achar que
você é mais triste do que os outros porque você não atualiza seu perfil
constantemente com imagens como aquelas que acabou de ver. Você descobre o mundo mau das atualizações obrigatórias de quem quer mostrar como é feliz.
Mas, como o tempo é grande remédio, o relógio anda e,
desconectado, você percebe que não é infeliz assim como pensou ao ver as fotos
dos seus amigos. Você está se divertindo no trabalho, você tem um(a)
namorado(a) nota dez, você pode não viajar o tempo todo mas curte muito seus
passeios, você tem amigos fiéis. Você tem tudo isso. E porque a infelicidade?
Porque os outros mostraram o que fazem e fizeram todo mundo conhecer sua vida
maravilhosa, enquanto você não o faz, e pensa horrorizado que as pessoas acham
que sua vida é chata.
A parte maravilhosa da vida das pessoas pode estar estampada
na internet, mas é difícil que elas abram também os seus problemas para Deus e
o mundo. Podemos ver tudo aquilo e achar que fulano tem uma vida incrível e
você não, e ainda nos sentirmos mal por invejarmos aquilo em vez de ficarmos
contentes por os outros estarem bem. É, meu filho. Assuma. Se você é jovem, é
bem provável que esteja nesse grupo. Mas calma aí. Somos humanos. Agimos
inapropriadamente às vezes porque é a nossa natureza. E nos preocupar com as
aparências é um grande revés, mas faz parte do jogo.
É legal registrar fatos bacanas da nossa vida na internet. Nos sentimos bem com isso e não há nada de mais. Mas desde que isso não vire uma obrigação. A vida real está do lado de cá da telinha. É aqui que a gente vive, se diverte, sofre, ama. É aqui que importa. Se sinta bem com
você mesmo e está tudo certo.