domingo, 24 de fevereiro de 2013

Rede social: o medidor de felicidade


Em uma entrevista na TV, um cara cujo trabalho nada tinha a ver com o assunto disse que não há como medir a felicidade de uma pessoa. Não, porque não há parâmetros para isso. Não há um grau que defina se você é bonito acima da média, ou se sua inteligência está abaixo dela. Aí as pessoas começam a medir a sua felicidade pela infelicidade dos outros. Você vê alguém que considera feio, se acha mais bonito do que ele e julga estar contente com a sua beleza. Você vê alguém reclamando do seu trabalho e porque você não está reclamando do seu, quer dizer que o seu trabalho é melhor do que o dele. Não é louco isso?

Essa conclusão me fez perceber que existe um grande vilão da autoestima por aí, aparentemente inofensivo, que, recoberto pela sua grande presteza à sociedade ao divulgar com rapidez os fatos, ao deixar todo mundo bem informado com grande facilidade, involuntariamente cria o grau de felicidade das pessoas: as redes sociais. Não sou psicóloga para saber se isso realmente é um fato. Foi apenas uma observação despretensiosa de que as atualizações dos nossos amigos podem, sim, cutucar o nosso ego.

Há quem adore postar fotos de viagens. Centenas de imagens de lugares incríveis, paradisíacos, que são atualizadas constantemente, nos trazendo a conclusão de que essa pessoa definitivamente sabe aproveitar a vida. Você vê isso, e automaticamente aquela barrinha imaginária que mostra em que nível está sua felicidade (tipo aquelas de energia, dos personagens de videogame) perde um risquinho.  

Você segue observando as atualizações. Aí você vê que uma pessoa postou fotos com um(a) namorado(a).  Imagens só love, do casal protagonizando um beijo de novela, ou então agarradinhos, fazendo careta para a câmera etc, enfim, você sente aquele amor em ebulição, para ambos os lados. A sensação de que aquele é um típico início de namoro e que aquelas pessoas são perfeitas uma para a outra, tem afinidades extremas e fazem coisas legais. Independente de você ter um namorado ou não, independente do amor, lá se vai mais um risquinho da sua barrinha de felicidade.

Você segue mais um pouco as atualizações e vê uma foto da pessoa dentro do seu local de trabalho, com os colegas, rindo adoidados. Cara – você pensa – esse aí tem o trabalho dos sonhos. Tchau, risquinho. Logo depois você vê o outro em uma festa, repleto de amigos, com copos de cerveja na mão, rindo muito, e em baixo um cinquenta e sete comentários do tipo “festa show de bola”. E sua barrinha de felicidade começa a chegar no vermelho e os últimos risquinhos piscam, para mostrar que estão no limite.

Depois de cinco minutinhos dando aquela olhadinha básica “só para ver o que tem de bom”, você sai do Facebook deprimido. Há, pegadinha do malandro! Agora você tem com o que medir a sua felicidade e começa a achar que você é mais triste do que os outros porque você não atualiza seu perfil constantemente com imagens como aquelas que acabou de ver. Você descobre o mundo mau das atualizações obrigatórias de quem quer mostrar como é feliz.

Mas, como o tempo é grande remédio, o relógio anda e, desconectado, você percebe que não é infeliz assim como pensou ao ver as fotos dos seus amigos. Você está se divertindo no trabalho, você tem um(a) namorado(a) nota dez, você pode não viajar o tempo todo mas curte muito seus passeios, você tem amigos fiéis. Você tem tudo isso. E porque a infelicidade? Porque os outros mostraram o que fazem e fizeram todo mundo conhecer sua vida maravilhosa, enquanto você não o faz, e pensa horrorizado que as pessoas acham que sua vida é chata.

A parte maravilhosa da vida das pessoas pode estar estampada na internet, mas é difícil que elas abram também os seus problemas para Deus e o mundo. Podemos ver tudo aquilo e achar que fulano tem uma vida incrível e você não, e ainda nos sentirmos mal por invejarmos aquilo em vez de ficarmos contentes por os outros estarem bem. É, meu filho. Assuma. Se você é jovem, é bem provável que esteja nesse grupo. Mas calma aí. Somos humanos. Agimos inapropriadamente às vezes porque é a nossa natureza. E nos preocupar com as aparências é um grande revés, mas faz parte do jogo.

É legal registrar fatos bacanas da nossa vida na internet. Nos sentimos bem com isso e não há nada de mais. Mas desde que isso não vire uma obrigação. A vida real está do lado de cá da telinha. É aqui que a gente vive, se diverte, sofre, ama. É aqui que importa. Se sinta bem com você mesmo e está tudo certo.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Tem gente em casa


Quando as pessoas falam “puxa, isso mudou a minha vida” referindo-se a algum acontecimento, pessoa ou até mesmo algo material que por algum motivo interferiu no seu pensamento, modo de agir etc, eu acredito. Sendo mais sincera, acredito que muitos exageram no melodrama na hora de se apresentar para alguém ou contar um fato de sua vida, mas acredito mais ainda, na cara dura, que somos inevitavelmente maleáveis e suscetíveis a mudanças causadas por situações da vida, mesmo que banais. Pois bem. Puxa, um texto mudou a minha vida!
Diria mais que mudou a minha visão sobre a vida, mas, como tudo acaba no mesmo lugar, sim, tive a vida mudada por um punhado de palavras e uma ideia. A crônica “Pessoa habitada”, da gaúcha Martha Medeiros, apresentou a mim um novo conceito sobre as pessoas. Na verdade, deu uma definição para aquelas pessoinhas encantadoras que, apesar de serem poucas (na minha humilde opinião) quando passam por nós fazem um arrastão emocional. Baseada na expressão francesa “habité” e na mais abrasileirada impossível “esse aí tem gente em casa”, Martha apresentou-me os “habitados”. Pessoas que têm dentro de si algo especial, que é até difícil de explicar. Que têm angústias e dúvidas mas são preenchidas também por curiosidade, vontade de agir, força e uma cabecinha aberta que é de dar inveja.
Quando terminei de ler o texto, senti aquele “click”. É isso! É exatamente a definição para as pessoas que tanto admiro, que me passam uma serenidade, uma confiança e uma vontade danada de ficar conversando com ela horas a fio. São aquelas pessoas que, ao meu ver, são bastante incompreendidas, intituladas "avoadas" e julgadas por questionarem coisas que, para a multidão, são perda de tempo. Mas que justamente por isso são especiais.
Passado algum tempo da minha iluminada descoberta, um professor de literatura me apresentou os nefelibatas. O adjetivo foi usado por Lima Barreto no livro “Os Bruzundangas” e significa, buscando a tradução do grego "nephele" (nuvem) e "batha", (em que se pode andar), aquele que anda nas nuvens. Aquele que às vezes foge da realidade, mas que observa atentamente a tudo o que está acontecendo. Pronto. Aí está o habitado em forma de adjetivo grego. Fiquei fascinada novamente.
Aqueles que geram tanto julgamento mas também tanta admiração para os olhos mais apurados e corações mais abertos não são incógnitos na sociedade. Sei que ninguém tem o direito de classificar as pessoas por julgamento próprio, mas às vezes é inevitável. Há pessoas que por algum motivo não nos agradam, assim como há outras que sempre queremos ter por perto. Não somos melhores ou piores por isso.
Tenho certeza de que há muita gente que me quer longe, sem ter nada concreto contra mim, assim como tenho certeza de que há pessoas que eu amo que me admiram como eu sou. É coisa de bater o santo. É coisa de classificar sentimentos e atitudes que nos agradam e nos aproximar dos afortunados portadores dessas características.
Tenho um olhar diferente para os habitados. Tenho convívio com poucos, três ou quatro, mas quando percebo que alguém “tem gente em casa” quero ficar próximo, porque sei que essa pessoa vai me transmitir algum sentimento bom e algum aprendizado.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Nada como a música


Música. Que poder estranho é esse que tem a música, para de maneira tão despretensiosa e ao mesmo tempo tão voraz atingir nossos sentimentos e nos transportar para algum lugar, algum momento, em alguma companhia.

Que poder estranho é esse, que inicia na audição mas provoca uma festa literal em todos os sentidos, nos fazendo ver imagens, sentir gostos, texturas..

Formalidade informal, ora essa, da música. Já que pode facilmente passear das rebuscadas notas, sustenidos e bemóis para um jogo de palavras e pensamentos tão profundos, às vezes quase infantis, como uma criança que impulsivamente fala o que pensa e não liga pro que diz.

O que é música, portanto, senão um conjunto de sons emitidos por um canal qualquer, que siga um ritmo melódico e que nos aguce de alguma forma, os sentidos?

Poder estranho, afinal. Fala sério, já teve uma música que te fez sentir viajando em uma estrada deserta?

Ou então numa praia, sob sol e cheiro de protetor solar?

Que te deu vontade de sair cantarolando alegremente pela rua?

Que te levou de volta para a infância, em uma embriagada nostalgia?

E, vamos ser sinceros, que não te fez um dia tocar uma guitarra imaginária em frente ao espelho, como um astro do rock dos anos 80...

Poder estranho, esse. Tanto que até a medicina, com sua própria estranheza, tratou de embrenhar-se nesse universo multi-sensorial e emocional.

Música agora é tratamento mais eficiente do que muito remédio.
Alguns exemplos? Há alguns anos a música vem sendo associada à terapia. Elementos musicais são aplicados no tratamento de determinadas doenças, como o mal de Alzheimer.

Pesquisadores identificaram que algumas trilhas sonoras podem ser até mais poderosas e eficientes para o desempenho de atletas do que substâncias ilegais que são encontradas com frequência em exames antidoping.

Até algumas experiências com vacas leiteiras e vegetais mostram aumento na produção quando expostos à música clássica ou instrumental.

Puxa vida! Música já é por si só um auto-tratamento. Tratamento informal, pra afogar as mágoas, para libertar-se, para ensinar, para unir pessoas, para fazer rir, para fazer chorar, para motivar, para se exercitar, para inspirar.

Música, estranha palavra poderosa, que atinge os corações mais duros, as almas mais inquietas. Belo poder!

Deixemos então a música nos absorver. Mal não faz. No máximo, ficaremos drogados pela sua intensidade.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Nada como virar a última página


Não há sensação mais gostosa do que a de terminar um livro. De, após dedicar boas horas de sua vida a uma história e mergulhar nela intensamente, virar sua última página. Aquele breve flashback da trama que involuntariamente nos toma, nesse instante final, traz consigo já uma saudadezinha, provocada tanto pelo inevitável envolvimento com o(s) personagem(s) como pelas palavras mágicas da obra como um todo. Nem todo livro provoca isso, e não sei se os que provocam trazem a mesma sensação em todo leitor, mas que é interessante, é.

Acabei de virar a última página de On the Road, do mago da geração beat, Jack Kerouac, e imediatamente saltitei rumo ao computador para extravasar as palavras que pipocavam na minha cabeça. Livrinho definitivamente subestimável, poderia dizer. Edição pocket, baratinha, aparentemente inofensiva, mas que me consumiu algumas semanas e me provocou alguns delírios causados pelas intermináveis e incontáveis digressões espalhadas ao longo da obra pelo autor.

Kerouac era doidão. Só pode. Dizem que ele escreveu On the Road no período de três semanas em um rolo de papel para telex, sem parágrafos, em infindáveis frases que se perdiam de vista até verem uma vírgula ou um ponto. Escreveu o que seria uma autobiografia em primeira pessoa, narrada sob o nome de Sal Paradise, de suas intensas viagens pelas estradas da América no fim da primeira metade do século passado. Viagens marcadas por muitos devaneios, ao som de jazz e ao ritmo da tal da benzedrina, na companhia de amigos igualmente doidões, como Dean Moriarty, também um pseudônimo, tudo embalado em uma gostosa prosa bastante espontânea.

Um obra que facilmente pode ser confundida como uma história fútil, à lá sexo, drogas e rock’n roll (só que com jazz ao lugar de rock) de jovens sem compromisso procurando por diversão e liberdade. Na verdade, é isso mesmo, só que envolta em uma sintonia extremamente poética. Não sei como descrever exatamente, até porque qualquer palavra que eu ouse utilizar me deixaria no chinelo, se comparado ao texto de Kerouac. Mas esses caras doidões, ou ao menos Jack, tinham uma visão tão detalhada da vida, das coisas mais simples, que você se encanta ao perceber. Nas digressões a que me referi, o autor praticamente cria uma poesia para cada situação que será por ele descrita. O livrinho tem a tradução de Eduardo Bueno, que provavelmente teve um imenso trabalho porém um talento do mesmo tamanho para conseguir passar ao leitor brasileiro as viagens reais e literais de Kerouac.

Essa foi a sensação que tive ao virar a última página de On the Road. De sair contando para todo mundo o que é essa obra, e de voltar as páginas para grifar as digressões mais extasiantes para lê-las em voz alta e promover esse mesmo encantamento em uma outra pessoa. Ah, e de tentar adquirir a versão em inglês, para conhecer esse rico vocabulário de Kerouac em sua língua original.

On the Road vai agora para a minha prateleira. Junto aos outros que igualmente me excitaram, para dar lugar a uma nova embriaguez. Vamos virar mais uma vez a primeira página.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Caramba, é Natal!


Dia 24 de dezembro, e eu, mais uma vez, fui em busca de um presente no último momento. Fui burra outra vez. Porque, assim como eu, todas as outras pessoas da cidade inteira parecem também ter deixado para comprar seus presentes na última hora e agora reclamam do tumulto como formigas que se perderam da trilha do formigueiro. Andam ziguezagueando de loja em loja com seus pacotes sobre as cabeças e se perdem do caminho de casa. Não vejo tanta gente se batendo assim pelas calçadas desde o último dia de campanha eleitoral deste ano, só que em vez de pessoas abanando bandeiras com trezes e quarenta e cincos nas esquinas, via vendedores ambulantes com redes, capas para banco de carro e chaveirinhos seduzindo consumidores com seu 13º no bolso.

E lá estava eu. Carregando o meu pacote e desesperada por alcançar o caminho de casa logo. E sonhando poder encontrar um túnel que me leve a uma casinha simpática no meio da neve, onde as pessoas se vestem com cachecóis felpudos e suéteres com renas bordadas, e cantam músicas natalinas em volta da árvore enfeitada aquecidos pela lareira logo ao lado.

Cada um cria sua imagem de Natal perfeito. E é triste ver que aquele sincero espírito natalino, de fraternidade e generosidade, acaba ocultado pelo consumismo atordoado. Papai Noel não desce mais pela chaminé. Fica na porta das lojas jogando balas para as crianças e mostrando quanta coisa bonita há nas vitrines.

Mas, lá no fundo, ainda há algo simbólico. Apesar de o ato de dar um presente ter sido singelamente corrompido pelo capitalismo a ponto de se perder de vista sua verdadeira intenção, no fim, os abraços como resposta ainda estão lá. Os muito obrigado também. As reuniões de pessoas que há muito tempo não se viam enfim foi feita. O clima de amizade fortalece. A preocupação por agradar o próximo também.

Nem todo mundo pensa assim. Sejamos sinceros. Mas que o ar de dezembro ainda tem um sopro natalino real, tem.

Feliz Natal!

sábado, 8 de dezembro de 2012

Um exemplo para mim


Estava lendo as crônicas de Martha Medeiros outro dia e, caramba, nada como as crônicas da Martha Medeiros para me colocar para cima, para me inspirar. Martha é uma pessoa habitada, definição que arranquei, adivinha, de outra crônica dela, e que definitivamente mudou minha visão sobre as pessoas.

Martha Medeiros, é, digamos assim, onde eu quero chegar em meu profundo e interrogativo objetivo de vida. Martha tem um poder legítimo de pessoa habitada. De extrair das coisas mais banais possíveis um sentido totalmente imprevisível para algo, e depois descrever por meio de suas dançantes palavras a conclusão vinda sabe-se-lá como, e que, de sua maneira mais natural, atinge pessoas como eu, que estão o tempo todo buscando sentidos.

Ser avoada e confusa se torna legal depois de ler Martha Medeiros. Porque me faz perceber que talvez isso não seja ruim. Talvez isso seja uma bela arma para se descobrir as coisas e para viver criando sentidos próprios que nos fazem sentir bem.

Não é o máximo ter alguém em quem nos inspirar? Alguém, ou algo, sei lá. Não acho que isso queira dizer que estamos copiando, ou algo assim. Acho que estamos colhendo exemplos do que há de bom para nos construirmos. Como o roqueiro que tem nos Beatles a descrição viva do que ele pretende ser. Como o pintor que sonha em se aproximar, mesmo que infimamente, das curvas surrealistas de Dalí. Como o filho que vê no pai o retrato do que ele será no futuro. Como o leitor de quadrinhos que tem no super-homem o exemplo de vida.  Como o fiel cristão que defende Jesus antes de si mesmo, tamanha devoção.

Somos únicos. Sete bilhões de cabeças-duras singulares que mesmo sabendo o que é certo e o que é errado, ainda assim cometemos nossos próprios erros, à nossa maneira. Mas crescemos com vivência, com a experiência. Com o que aprendemos na aula, com o que lemos num livro, com o que entendemos depois de sofrer as consequências, com o que o tio da padaria comentou. Ao aprender com quem admiramos. Com quem faz aquilo que gostamos de fazer, ou que por algum motivo se tornou, sem querer, um exemplo para nós.

Tão comum é isso que imediatamente fui remetida a diversas situações. Às incontáveis obras artísticas, que foram “baseadas na obra de fulano de tal”. A uma aula de rádio, no ano passado, onde o professor nos disse: “Escutem os locutores. Percebam seus estilos e então construam o de vocês”.

Porque não absorver o que há de bom nesse mundo e assim nos tornarmos quem queremos ser?  

Olhares da cidade

 


Basta caminhar por uma rua do centro em um dia de intenso movimento que você percebe, a cada esquina ou menos, pessoas peculiares, que carregam em seus olhares características que podem definir seu humor, seu caráter, suas vontades, seus sentimentos. Dizem que um olhar vale mais do que mil palavras, e talvez isso seja realmente verdade. Pois em um olhar é possível perceber, por exemplo, a inocência contrastando com a frieza, a esperança, a solidão, a curiosidade, a distração. De velhos a crianças, de olhares enrugados pelo tempo a olhares tranquilos de quem ainda tem muito o que viver. É só olhar!