Dia 24 de dezembro, e eu, mais uma vez, fui em busca de um
presente no último momento. Fui burra outra vez. Porque, assim como eu, todas
as outras pessoas da cidade inteira parecem também ter deixado para comprar
seus presentes na última hora e agora reclamam do tumulto como formigas que se
perderam da trilha do formigueiro. Andam ziguezagueando de loja em loja com
seus pacotes sobre as cabeças e se perdem do caminho de casa. Não vejo tanta
gente se batendo assim pelas calçadas desde o último dia de campanha eleitoral
deste ano, só que em vez de pessoas abanando bandeiras com trezes e quarenta e
cincos nas esquinas, via vendedores ambulantes com redes, capas para banco de
carro e chaveirinhos seduzindo consumidores com seu 13º no bolso.
E lá estava eu. Carregando o meu pacote e desesperada por
alcançar o caminho de casa logo. E sonhando poder encontrar um túnel que me leve
a uma casinha simpática no meio da neve, onde as pessoas se vestem com
cachecóis felpudos e suéteres com renas bordadas, e cantam músicas natalinas em
volta da árvore enfeitada aquecidos pela lareira logo ao lado.
Cada um cria sua imagem de Natal perfeito. E é triste ver
que aquele sincero espírito natalino, de fraternidade e generosidade, acaba ocultado
pelo consumismo atordoado. Papai Noel não desce mais pela chaminé. Fica na
porta das lojas jogando balas para as crianças e mostrando quanta coisa bonita
há nas vitrines.
Mas, lá no fundo, ainda há algo simbólico. Apesar de o ato
de dar um presente ter sido singelamente corrompido pelo capitalismo a ponto de
se perder de vista sua verdadeira intenção, no fim, os abraços como resposta ainda
estão lá. Os muito obrigado também. As reuniões de pessoas que há muito tempo
não se viam enfim foi feita. O clima de amizade fortalece. A preocupação por
agradar o próximo também.
Nem todo mundo pensa assim. Sejamos sinceros. Mas que o ar
de dezembro ainda tem um sopro natalino real, tem.
Feliz Natal!
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