segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Tem gente em casa


Quando as pessoas falam “puxa, isso mudou a minha vida” referindo-se a algum acontecimento, pessoa ou até mesmo algo material que por algum motivo interferiu no seu pensamento, modo de agir etc, eu acredito. Sendo mais sincera, acredito que muitos exageram no melodrama na hora de se apresentar para alguém ou contar um fato de sua vida, mas acredito mais ainda, na cara dura, que somos inevitavelmente maleáveis e suscetíveis a mudanças causadas por situações da vida, mesmo que banais. Pois bem. Puxa, um texto mudou a minha vida!
Diria mais que mudou a minha visão sobre a vida, mas, como tudo acaba no mesmo lugar, sim, tive a vida mudada por um punhado de palavras e uma ideia. A crônica “Pessoa habitada”, da gaúcha Martha Medeiros, apresentou a mim um novo conceito sobre as pessoas. Na verdade, deu uma definição para aquelas pessoinhas encantadoras que, apesar de serem poucas (na minha humilde opinião) quando passam por nós fazem um arrastão emocional. Baseada na expressão francesa “habité” e na mais abrasileirada impossível “esse aí tem gente em casa”, Martha apresentou-me os “habitados”. Pessoas que têm dentro de si algo especial, que é até difícil de explicar. Que têm angústias e dúvidas mas são preenchidas também por curiosidade, vontade de agir, força e uma cabecinha aberta que é de dar inveja.
Quando terminei de ler o texto, senti aquele “click”. É isso! É exatamente a definição para as pessoas que tanto admiro, que me passam uma serenidade, uma confiança e uma vontade danada de ficar conversando com ela horas a fio. São aquelas pessoas que, ao meu ver, são bastante incompreendidas, intituladas "avoadas" e julgadas por questionarem coisas que, para a multidão, são perda de tempo. Mas que justamente por isso são especiais.
Passado algum tempo da minha iluminada descoberta, um professor de literatura me apresentou os nefelibatas. O adjetivo foi usado por Lima Barreto no livro “Os Bruzundangas” e significa, buscando a tradução do grego "nephele" (nuvem) e "batha", (em que se pode andar), aquele que anda nas nuvens. Aquele que às vezes foge da realidade, mas que observa atentamente a tudo o que está acontecendo. Pronto. Aí está o habitado em forma de adjetivo grego. Fiquei fascinada novamente.
Aqueles que geram tanto julgamento mas também tanta admiração para os olhos mais apurados e corações mais abertos não são incógnitos na sociedade. Sei que ninguém tem o direito de classificar as pessoas por julgamento próprio, mas às vezes é inevitável. Há pessoas que por algum motivo não nos agradam, assim como há outras que sempre queremos ter por perto. Não somos melhores ou piores por isso.
Tenho certeza de que há muita gente que me quer longe, sem ter nada concreto contra mim, assim como tenho certeza de que há pessoas que eu amo que me admiram como eu sou. É coisa de bater o santo. É coisa de classificar sentimentos e atitudes que nos agradam e nos aproximar dos afortunados portadores dessas características.
Tenho um olhar diferente para os habitados. Tenho convívio com poucos, três ou quatro, mas quando percebo que alguém “tem gente em casa” quero ficar próximo, porque sei que essa pessoa vai me transmitir algum sentimento bom e algum aprendizado.

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